sexta-feira, 13 de julho de 2018

Quem nunca ouviu falar que mãe cospe pra cima e depois ve cair na testa não é? Comigo não é diferente. "meu filho não vai comer açúcar" "remédio? Deus me livre" "escola pública? quero uma criança não um mini operário", e por aí vai... Mas acontece que na hora do vamo ver o que importa é o bem estar, e as vezes dar a vida dos sonhos pras crianças não é tão fácil. Quando penso na educação escolar do Sião ainda me sinto perdida. A pedagogia certa existe mesmo? Às vezes só quero dar espaço pra ele se desenvolver espontaneamente, e em outras me pego sonhando por ele.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

ser monja por 10 dias

Eu já havia lido relatos em blogs de viajantes sobre o curso de meditação vipassana, no qual o aluno se inscreve para aprender a técnica de meditação criada e utilizada por Gautama, o Buda para chegar a sua própria iluminação e que ele teve a bondade de compartilhar com quem quisesse ouvir afim de ajudar nós seres humanos nesta trilha pela libertação.

Quando nos inscrevemos no curso pela internet já temos acesso a rotina diária do curso e as normas que temos que seguir. A rotina é similar a rotina de um monge, acordamos as 4 da manha e dormimos as 9, meditamos varias horas pelo dia, tudo o que comemos e bebemos é fruto de doação, visto que não se cobra matrícula e nem uma taxa pelo curso, eles sobrevivem de doação de antigos estudantes.
Existem algumas condições que devem ser respeitadas, algumas condutas. Nao se deve machucar nenhum ser vivo, nem as formigas ou mosquitos porque todos os seres vivos querem viver, não se pode mentir, praticar nenhum tipo de relação sexual e manter o nobre silencio, ou seja, não falar nada pelos 10 dias, a menos que  professor te pergunte algo ou você tenha alguma duvida a cerca da técnica.
A experiencia do curso pra mim foi algo que me mudou bastante, me fez fechar coisas que estavam em aberto e que causavam sofrimento. Neste tempo estamos em contato com nós mesmos, com a técnica e com nada mais. Imagine estar num lugar onde nao há comunicação com as outras pessoas presentes, tudo o que você vê só você viu e não vai compartilhar com as outras pessoas. Nao vai lhes contar as dores que sentiu, se algum bicho lhe picou, se gostou da comida, se viu alguem conversando ou quebrando alguma regra, nao: tudo o que seus sentidos sentem fica somente com você.
Isso tras uma reflexao muito mais apurada quanto a propria vida, memorias de infancia aparecem com clareza, e existem momentos em que pode ser muito dificil psicologicamente ficar lá e encarar tudo, mas uma vez que se encara e se supera o bem é gigantesco.
É impressionante ver a quantidade de alunos antigos presentes nos cursos, ou seja, pessoas que fizeram um curso e voltam para reafirmar-sem na técnica de tempos em tempos, os locais sao muito calmos, a energia do lugar é muito boa, a comida é vegetariana e os centros existem por todo o mundo. Sendo assim nao vejo razão pela qual alguém nao deveria participar de um curso como este.
Vi pessoas deixando de fumar por causa do curso, superando traumas e até curando doenças, alem disso como estou viajando consegui muitos amigos novos depois que o nobre silencio terminou e muitos lugares para visitar.
Falando sobre o fim do nobre silencio... é incrível viver 10 dias com um grupo de pessoas e nao saber o nome nem a nacionalidade da maioria delas, nossa mente cria conceitos "essa pessoa deve ser assim, aquela deve ser assado" e quando conversamos pela primeira vez vemos que a maioria desses conceitos estava errado.
Uma experiencia incrível em vários âmbitos. Pra saber mais acesse o site internacional https://www.dhamma.org.

domingo, 1 de novembro de 2015

ninguém me falou sobre o cansaço

Nao me lembro de ter lido em lugar nenhum sobre essa parte da viagem, esse cansaço físico, mental, espiritual e de mais qualquer outra dimensao nossa que por ventura possa ficar cansada.
Cansaço que no meu caso é fruto de dias de estresse por nao saber onde dormir, pra qual cidade seguir, quanto dinheiro ainda tenho, o desespero momentâneo de ter que gastar metade do dinheiro em um imprevisto, ou erro de planejamento. Ter que seguir com a mochila arrebentada, as duas alças. E pensar: O que fazer? O que fazer? O que fazer?

Playa de Malvin - Montevideo

Agora estou em Montevideo, essa cidade que está no meu coração por diversos motivos. Cheguei aqui de ônibus, sendo que o planejado era chegar de carona, mas aconteceu que eu estava em Chuy as 20 hrs sem lugar pra ir, e a cidade se pôs perigosa me fazendo decidir por gastar 600 pesos uruguaios numa passagem até aqui. Minha mochila está arrebentada, procurei lugares pra dormir na maior pressa visto que planejava chegar aqui ao menos uma semana depois do que cheguei, dormi sonecas em bibliotecas e foram gentis o suficiente pra me esperarem acordar pra dizerem que eu não podia dormir ali, e por fim vieram os dias de descanso. Olhando pro rio que parece mar, escutando música, conhecendo pessoas, lugares e tentando ficar sozinha em repouso quase que hibernando, sem ao menos aproveitar a cidade o quanto normalmente aproveitaria, ficando mais no sofá e pela areia.
Os mates estão me ajudando a me pacificar, e também a calma com que as pessoas conversam comigo. Essa cidade é linda.

sábado, 19 de setembro de 2015

sobre uma volta prematura


Estou na minha cidade natal. E estou nela fazem mais ou menos 7 horas, sendo que agora são 4 da manhã e não consigo dormir de forma alguma. Ou melhor, talvez eu até conseguisse se colocasse algumas coisas em pratica como o não pensar mas são tantos pensamentos e perguntas e planos que dão um gás na mente já confusa depois de tantas horas de viagem e de espera em rodoviárias.
Eu vim bem mais cedo do que tinha planejado, isto porque tive uma grande crise de asma e pensei que o melhor seria voltar, mas daí eu melhorei enquanto ainda estava lá e decidi voltar mesmo assim e até agora não sei bem o porquê. Sei que aqui vai ser mais fácil juntar para viajar mas não sei bem o que me fez vir. E talvez este seja o ponto positivo da decisão, parece que fluiu mais do que qualquer coisa.
O estranho é que tenho a sensação de que estava dormindo e sonhando, e agora acordei e tudo voltou ao normal. Ou seja, ainda nem vi ninguém, a não ser meu pai que encontrei casualmente numa parada dos onibus em que nós estavamos na mesma hora na mesma lanchonete e já to tendo tempo de planejar ir embora de novo.
Estando aqui eu quero ter um tempo pra mim, longe de todo mundo, tomara que sozinha pra poder viver, cozinhar, ler, desenhar e fazer o que tiver vontade. Sinto que é necessário, talvez eu tivesse precisando olhar tudo de fora ou de dentro pra entender alguma coisa que passou batido.
Meu maior relacionamento no Uruguai foi com uma pessoa que vivia na correria e eu sinto falta dele. Lo extraño. Tenho vontade de mostrar meu álbum de fotografias e passarmos um fim de semana acampads em algum lugar só pra ele me conhecer um pouquinho mais e eu poder observar a maneira como ele age longe de tudo. Mas essa vontade tende a passar com o tempo.
Eu sou um peixe pequeno que de tanto medo de ficar preso na rede do pescador se debate até que ela rasgue, mas fazendo isso me machuco sem nem ter precisão, porque conseguiria escapar de outra forma. E sempre vou embora antes de que se cansem de mim. Talvez tenha sido isso. Talvez não.
Montevideo é uma cidade encantadora, talvez melhor pra morar do que pra passear. Não tem aquela correria de metrópole, as pessoas caminham pelas praias, convivem nos parques como amigos com seus cachorros soltos e suas musicas improvisadas, tomam mate em todos os lugares, sendo necessário avisos onde não é permitido matear e havendo um grande comercio de agua caliente por todos os lados. E isso faz com que eles conversem, sabe? Param pra tomar um mate, sentam em roda, riem, se mantem aquecidos e felizes.
Todos os uruguaios que sabiam falar algo de português usavam esse conhecimento pra me entender e pra falar o que podiam, facilitando tudo e deixando o clima amistoso, eram simpáticos e me davam a sensação de ser bem vinda. Tinha o porteiro do prédio da rua do meu trabalho, que eu não sei o nome porque nunca chegamos a realmente conversar mas que me dava sempre bom dia e boa tarde e como estás e alegrava meu dia.
O que dizer daquela cidade, ah, com suas feiras que mais parecem tesouros que se encontra conforme vive e caminha por ruas aleatórias por dias aleatórios, e de repente, sem mais nem menos, surge um comerciante de torta fritas pra te engordar um pouquinho mais. Eu trouxe uma grapamiel comigo, creio que vou levar pra alguma festa, sei la.
Mas tudo que eu aprendi, que vai desde geografia, a politica atual de alguns países da américa latina, como preparar um mate, como fazer massa de pizza, o que é realmente um bom sorvete, o que são os registros akashicos, e coisas que de tao pequenas e significantes não poderiam ser escritas aqui e fazer sentido pra qualquer ser humano que não seja eu, elas estão agora em mim. O que só aumenta minha gana de fazer mais isso, de ir e ir até onde o olho alcança, e conversar, comer, dançar, chorar e se desesperar e descobrir que tudo vai ficar bem porque é assim, nunca foi fácil.
E aprender também, que talvez não tenha sido a melhor hora a escolhida para voltar, que talvez da próxima vez eu deva escolher passar mais tempo onde quer que eu esteja, que eu realmente acompanhe as aulas de expressão corporal as quais me matriculei e que seja capaz de formar mais laços mais profundos ou conhecer mais o lugar e ter mais dicas pra dar e menos sotaque da terra natal.

Mas eu vi. E agora eu sei, eu posso fazer o que eu sonho, não preciso mais ter medo de chegar a hora H e decidir por uma vida pré elaborada, vi que fazer minhas escolhas é o que me deixa livre, e não há outra forma de ser.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

meu corpo é poesia
eu deixo que as flores cresçam por suas paredes
eu o sinto florescendo
o mundo escreve sobre ele
com suas letras feias e garrafais
e eu deixo
e eu mudo
e eu muda
roupa nao é poesia
mas é necessário cobrir-se
porque é assim
entretando o céu continua lindo
por qualquer lugar que eu ande
apesar de suas nuvens me deixarem claustrofobica
por pensar demais
e as flores
e as flores
que enfeitam os caminhos
deixando-os bonitos sem importar o que se escuta ao caminhar
mas por sorte
ainda temos sorvete de doce de leite na geladeira
e as flores

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

casualidades por las calles


São duas horas da manhã de uma sexta feira. Hoje eu tinha um encontro, mas por casualidades da minha brasileirice cheguei 40 minutos atrasada e não encontrei a pessoa lá. Pode ser que eu estivesse no bar errado, pode ser que ela tenha me esperado e ido e pode ser mais mil coisas, mas por fim não foi nada demais.
Eu fumei, entrei, bebi um fernet com coca pela primeira vez na vida, achei horrível com gosto de remédio e comecei a pensar na vida sentada no balcão do bar sentindo as vezes aqueles olhares estranhos jogados em direção a mulheres sozinhas em bares.
Acontece que eu to feliz aqui sabe? Não 100% do tempo, mas eu estou satisfeita por estar aqui. E agora que estou não posso parar de pensar no que fazer depois.
Isso é uma coisa meio ruim, porque minha ansiedade faz com que eu projete muito as coisas, mesmo sabendo que o futuro não existe, mas é bom porque faz eu me planejar tanto que alguma coisa acaba dando certo.
É maravilhoso voltar do bar comendo alfajor. Assim como é uma delicia ir na feira e comprar torta frita e doce de leite. Ouvir as musicas em espanhol que tocam nas rádios, assistir Os Simpsons e ver que o Homer se chama Homero. Ver as bancas de flores pelas ruas e morar pertinho do mar.
O que eu quero dizer é que... Não sei se quero mesmo dizer algo.
Quero mesmo é comprar um filme da ILFORD pra minha câmera e brincar com a luz, depois encontrar um laboratorio, esperar e ser feliz.
Registrando as pizzas, as risadas e o meu cabelo crescendo.


terça-feira, 30 de junho de 2015

Primeiros dias em Montevideo


A primeira vez que conversei com alguem em espanhol na vida foi no ônibus indo de Balneario Camboriu à Montevideo, aprendi tudo o que sabia por cursos online e aplicativos de celular duolingo. Apesar disso, ou por isso, ou nenhum dos dois, provavelmente nenhum dos dois tem sido dias maravilhosos. Desde que cruzei a fronteira senti uma felicidade gigante por estar vivendo algo que imaginei e sonhei por meses. Escrevo isso quase sem conseguir porque estou ouvindo novos baianos e só penso no Brasil e em caipirinha e pão de queijo. Mas me lembro então das casinhas antigas, dos museus e das feiras e me apaixono pelo paisito.

A primeira vez que comprei algo sozinha foi numa conveniencia de posto: Alfajor e coca cola, eu nao entendia quanto tinha dado, nao entendia o que o atendente dizia, mas ele sorria e eu tambem e deu tudo certo. Os uruguaios (uruguaxos) sao simpaticos e tentam sempre falar portugues e entender o portunhol hahah.
A cidade é linda, a arquitetura de todos os bairros que conheci é magnifica, muitos prédios de tijolo a vista, construçoes históricas, castelos no meio do seu caminho pro trabalho.
Me parece que prezam muito a beleza, e isso era uma coisa que sentia falta na cidade em que morava, aqui tem muitas praças e estatuas por todos os lados, de chineses, de cavalos, Madame Curie, etc etc etc, é engraçado porque as estatuas sao uma forma de se localizar também "estou perto da estatua do Gandhi" "Nao sei onde é, ja passou pela do Santos Dumond?".
E os museus que não são poucos e agradam a todos os gostos. Tem os de arte contemporânea, de arte clássica, artes decorativas, o museu pedagógico, e todos surpreendem.
E assim eu vou, aprendendo a hablar, conhecendo as pessoas e os lugares e me sentindo cada vez mais em casa.