sábado, 19 de setembro de 2015

sobre uma volta prematura


Estou na minha cidade natal. E estou nela fazem mais ou menos 7 horas, sendo que agora são 4 da manhã e não consigo dormir de forma alguma. Ou melhor, talvez eu até conseguisse se colocasse algumas coisas em pratica como o não pensar mas são tantos pensamentos e perguntas e planos que dão um gás na mente já confusa depois de tantas horas de viagem e de espera em rodoviárias.
Eu vim bem mais cedo do que tinha planejado, isto porque tive uma grande crise de asma e pensei que o melhor seria voltar, mas daí eu melhorei enquanto ainda estava lá e decidi voltar mesmo assim e até agora não sei bem o porquê. Sei que aqui vai ser mais fácil juntar para viajar mas não sei bem o que me fez vir. E talvez este seja o ponto positivo da decisão, parece que fluiu mais do que qualquer coisa.
O estranho é que tenho a sensação de que estava dormindo e sonhando, e agora acordei e tudo voltou ao normal. Ou seja, ainda nem vi ninguém, a não ser meu pai que encontrei casualmente numa parada dos onibus em que nós estavamos na mesma hora na mesma lanchonete e já to tendo tempo de planejar ir embora de novo.
Estando aqui eu quero ter um tempo pra mim, longe de todo mundo, tomara que sozinha pra poder viver, cozinhar, ler, desenhar e fazer o que tiver vontade. Sinto que é necessário, talvez eu tivesse precisando olhar tudo de fora ou de dentro pra entender alguma coisa que passou batido.
Meu maior relacionamento no Uruguai foi com uma pessoa que vivia na correria e eu sinto falta dele. Lo extraño. Tenho vontade de mostrar meu álbum de fotografias e passarmos um fim de semana acampads em algum lugar só pra ele me conhecer um pouquinho mais e eu poder observar a maneira como ele age longe de tudo. Mas essa vontade tende a passar com o tempo.
Eu sou um peixe pequeno que de tanto medo de ficar preso na rede do pescador se debate até que ela rasgue, mas fazendo isso me machuco sem nem ter precisão, porque conseguiria escapar de outra forma. E sempre vou embora antes de que se cansem de mim. Talvez tenha sido isso. Talvez não.
Montevideo é uma cidade encantadora, talvez melhor pra morar do que pra passear. Não tem aquela correria de metrópole, as pessoas caminham pelas praias, convivem nos parques como amigos com seus cachorros soltos e suas musicas improvisadas, tomam mate em todos os lugares, sendo necessário avisos onde não é permitido matear e havendo um grande comercio de agua caliente por todos os lados. E isso faz com que eles conversem, sabe? Param pra tomar um mate, sentam em roda, riem, se mantem aquecidos e felizes.
Todos os uruguaios que sabiam falar algo de português usavam esse conhecimento pra me entender e pra falar o que podiam, facilitando tudo e deixando o clima amistoso, eram simpáticos e me davam a sensação de ser bem vinda. Tinha o porteiro do prédio da rua do meu trabalho, que eu não sei o nome porque nunca chegamos a realmente conversar mas que me dava sempre bom dia e boa tarde e como estás e alegrava meu dia.
O que dizer daquela cidade, ah, com suas feiras que mais parecem tesouros que se encontra conforme vive e caminha por ruas aleatórias por dias aleatórios, e de repente, sem mais nem menos, surge um comerciante de torta fritas pra te engordar um pouquinho mais. Eu trouxe uma grapamiel comigo, creio que vou levar pra alguma festa, sei la.
Mas tudo que eu aprendi, que vai desde geografia, a politica atual de alguns países da américa latina, como preparar um mate, como fazer massa de pizza, o que é realmente um bom sorvete, o que são os registros akashicos, e coisas que de tao pequenas e significantes não poderiam ser escritas aqui e fazer sentido pra qualquer ser humano que não seja eu, elas estão agora em mim. O que só aumenta minha gana de fazer mais isso, de ir e ir até onde o olho alcança, e conversar, comer, dançar, chorar e se desesperar e descobrir que tudo vai ficar bem porque é assim, nunca foi fácil.
E aprender também, que talvez não tenha sido a melhor hora a escolhida para voltar, que talvez da próxima vez eu deva escolher passar mais tempo onde quer que eu esteja, que eu realmente acompanhe as aulas de expressão corporal as quais me matriculei e que seja capaz de formar mais laços mais profundos ou conhecer mais o lugar e ter mais dicas pra dar e menos sotaque da terra natal.

Mas eu vi. E agora eu sei, eu posso fazer o que eu sonho, não preciso mais ter medo de chegar a hora H e decidir por uma vida pré elaborada, vi que fazer minhas escolhas é o que me deixa livre, e não há outra forma de ser.

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