Estou na minha cidade
natal. E estou nela fazem mais ou menos 7 horas, sendo que agora são 4 da manhã
e não consigo dormir de forma alguma. Ou melhor, talvez eu até conseguisse se
colocasse algumas coisas em pratica como o não pensar mas são tantos pensamentos
e perguntas e planos que dão um gás na mente já confusa depois de tantas horas
de viagem e de espera em rodoviárias.
Eu
vim bem mais cedo do que tinha planejado, isto porque tive uma grande crise de
asma e pensei que o melhor seria voltar, mas daí eu melhorei enquanto ainda
estava lá e decidi voltar mesmo assim e até agora não sei bem o porquê. Sei que
aqui vai ser mais fácil juntar para viajar mas não sei bem o que me fez vir. E
talvez este seja o ponto positivo da decisão, parece que fluiu mais do que
qualquer coisa.
O
estranho é que tenho a sensação de que estava dormindo e sonhando, e agora
acordei e tudo voltou ao normal. Ou seja, ainda nem vi ninguém, a não ser meu
pai que encontrei casualmente numa parada dos onibus em que nós estavamos na
mesma hora na mesma lanchonete e já to tendo tempo de planejar ir embora de
novo.
Estando aqui eu quero
ter um tempo pra mim, longe de todo mundo, tomara que sozinha pra poder viver,
cozinhar, ler, desenhar e fazer o que tiver vontade. Sinto que é necessário,
talvez eu tivesse precisando olhar tudo de fora ou de dentro pra entender
alguma coisa que passou batido.
Meu maior
relacionamento no Uruguai foi com uma pessoa que vivia na correria e eu sinto falta
dele. Lo extraño. Tenho vontade de mostrar meu álbum de fotografias e passarmos um fim de semana acampads em algum lugar só pra ele me conhecer um
pouquinho mais e eu poder observar a maneira como ele age longe de tudo. Mas
essa vontade tende a passar com o tempo.
Eu sou um peixe
pequeno que de tanto medo de ficar preso na rede do pescador se debate até que
ela rasgue, mas fazendo isso me machuco sem nem ter precisão, porque
conseguiria escapar de outra forma. E sempre vou embora antes de que se cansem
de mim. Talvez tenha sido isso. Talvez não.
Montevideo é uma
cidade encantadora, talvez melhor pra morar do que pra passear. Não tem aquela
correria de metrópole, as pessoas caminham pelas praias, convivem nos parques
como amigos com seus cachorros soltos e suas musicas improvisadas, tomam mate
em todos os lugares, sendo necessário avisos onde não é permitido matear e havendo um grande comercio de
agua caliente por todos os lados. E isso faz com que eles conversem, sabe?
Param pra tomar um mate, sentam em roda, riem, se mantem aquecidos e felizes.
Todos os uruguaios
que sabiam falar algo de português usavam esse conhecimento pra me entender e
pra falar o que podiam, facilitando tudo e deixando o clima amistoso, eram simpáticos
e me davam a sensação de ser bem vinda. Tinha o porteiro do prédio da rua do
meu trabalho, que eu não sei o nome porque nunca chegamos a realmente conversar
mas que me dava sempre bom dia e boa tarde e como estás e alegrava meu dia.
O que dizer daquela
cidade, ah, com suas feiras que mais parecem tesouros que se encontra conforme
vive e caminha por ruas aleatórias por dias aleatórios, e de repente, sem mais
nem menos, surge um comerciante de torta fritas pra te engordar um pouquinho
mais. Eu trouxe uma grapamiel comigo, creio que vou levar pra alguma festa, sei
la.
Mas tudo que eu
aprendi, que vai desde geografia, a politica atual de alguns países da américa latina,
como preparar um mate, como fazer massa de pizza, o que é realmente um bom
sorvete, o que são os registros akashicos, e coisas que de tao pequenas e
significantes não poderiam ser escritas aqui e fazer sentido pra qualquer ser
humano que não seja eu, elas estão agora em mim. O que só aumenta minha gana de
fazer mais isso, de ir e ir até onde o olho alcança, e conversar, comer,
dançar, chorar e se desesperar e descobrir que tudo vai ficar bem porque é
assim, nunca foi fácil.
E aprender também,
que talvez não tenha sido a melhor hora a escolhida para voltar, que talvez da próxima
vez eu deva escolher passar mais tempo onde quer que eu esteja, que eu
realmente acompanhe as aulas de expressão corporal as quais me matriculei e que
seja capaz de formar mais laços mais profundos ou conhecer mais o lugar e ter
mais dicas pra dar e menos sotaque da terra natal.
Mas eu vi. E agora eu
sei, eu posso fazer o que eu sonho, não preciso mais ter medo de chegar a hora
H e decidir por uma vida pré elaborada, vi que fazer minhas escolhas é o que me
deixa livre, e não há outra forma de ser.
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