Eu já tinha lido relatos em blogs de viajantes sobre o curso de meditação Vipassana — aquele em que a gente se inscreve pra aprender a técnica de meditação criada e utilizada por Gautama, o Buda, no caminho até a própria iluminação. Ele teve a generosidade de compartilhar essa prática com quem quisesse ouvir, pra ajudar a gente nessa trilha pela libertação.
Quando a gente se inscreve no curso pela internet, já tem acesso à rotina diária e às normas que precisam ser seguidas. A rotina lembra a de um monge: acordar às 4 da manhã, dormir às 21h, meditar várias horas por dia. Toda a alimentação é fruto de doação, já que não há matrícula nem taxa — os centros sobrevivem com a contribuição de antigos estudantes.
Existem algumas condições de conduta: não machucar nenhum ser vivo (nem mesmo formigas ou mosquitos, porque todos querem viver), não mentir, não ter relações sexuais e manter o nobre silêncio — ou seja, não falar nada durante os 10 dias, a menos que o professor te pergunte algo ou você precise tirar dúvidas sobre a técnica.
A experiência me transformou bastante. Me ajudou a encerrar ciclos que estavam em aberto e que causavam sofrimento. Durante o curso, estamos em contato apenas com nós mesmos e com a técnica. Imagine estar num lugar onde não há comunicação com os outros presentes: tudo o que você sente fica só com você. Não dá pra contar a dor que sentiu, se um inseto te picou, se gostou da comida ou se alguém quebrou alguma regra. Nada disso. Os sentidos e experiências ficam só dentro de você.
Isso aprofunda muito a reflexão sobre a própria vida. Memórias da infância aparecem com clareza. Existem momentos em que pode ser psicologicamente muito difícil estar lá e encarar tudo, mas, quando se supera, o bem-estar é imenso.
Outra coisa que impressiona é a quantidade de alunos antigos. Muita gente faz o curso e volta de tempos em tempos pra reafirmar a prática. Os lugares são sempre muito calmos, com uma energia incrível, a comida é vegetariana e existem centros espalhados pelo mundo todo. Sinceramente, não vejo motivo pra alguém não experimentar.
Eu vi pessoas largando o cigarro, superando traumas e até curando doenças. Além disso, como eu estava viajando, acabei fazendo muitos amigos depois que o nobre silêncio terminou — e ganhei vários convites pra visitar outros lugares.
E falando sobre o fim do silêncio… é surreal passar 10 dias com um grupo de pessoas sem saber o nome ou a nacionalidade da maioria delas. A mente cria conceitos: “essa pessoa deve ser assim, aquela deve ser assado”. Mas, quando finalmente conversamos, percebemos que quase sempre estávamos errados.
Foi uma experiência incrível em muitos sentidos.
Pra saber mais, o site oficial é: https://www.dhamma.org









